Ex-critor | Crônica de Voktar

Olá pessoal. Esse mês teremos o retorno da postagem de boxes aqui no site mas queria fazer um post totalmente aleatório diferente primeiro. Estava olhando alguns arquivos em um PC antigo meu e me deparei com um texto que escrevi em 2012. Trata-se de uma história, com início, meio e fim mas não necessariamente bem trabalhada. Notei defeitos em tempos verbais enquanto relia e vários pontos que poderiam ter sido melhor desenvolvidos mas, como não vou fazer nada disso agora, pensei em disponibilizar aqui para a galera que curte uma leitura (ou seja, cerca de 2% da população) dar uma olhada.

Sério, não esperem nada demais por que não sou escritor mas ficaria feliz com as opiniões de vocês sobre isso que esbocei numa única tarde quente de oito de março de 2012.

Lá vai (sem imagens ilustrativas, desculpe…)!

Crônica de Voktar

A noite envolve as montanhas como um grande manto negro, avançando para o oeste enquanto cega os animais despreparados. Em uma terra pouco habitada, ouve-se sons de animais noturnos celebrando em meio a floresta, acompanhados apenas pelo ritmo das águas do Zwuan que a corta de norte a sul. Aos poucos os sons começam a cessar e o manto começa a ser retirado, trazendo novos animais para fora e produzindo vida novamente. Ao lado da fonte do grande rio, escondida em meio à densa vegetação, um homem desorientado e ferido encontra-se deitado. Sua memória é turva, e ele não sabe dizer como chegou àquele lugar. Lembranças de uma vida esquecida se esvaem, enquanto ele escuta passos vindos de uma trilha próxima. Os passos são de um velho senhor, que está a caminho da fonte para pegar água, costume que cultiva desde sua mais tenra idade, quando ainda possuía uma grande família e pais saudáveis. Esse tempo passara há anos e hoje ele assumira todas as responsabilidades sobre sua própria casa.
Ao chegar ao local, o velho se surpreende com o que vê. Deitado, um jovem de cabelos longos e negros encontra-se extremamente machucado, com a vida querendo abandoná-lo a qualquer segundo. A expressão no rosto do pobre rapaz é de espanto, medo e muita dor.
– Olá, rapaz – diz o velho, largando seus vasilhames em um canto e caminhando em direção ao rapaz – O que houve?
– Eu… eu não sei. Não faço idéia de… onde estou? O que houve comigo?
– Também não sei. Eu estava vindo pegar água e o encontrei nessa situação. Qual é o seu nome? Venha, vou lhe ajudar a se recompor.
– Obrigado. Eu sou… sou… – replica o desconhecido, como se forçasse a memória para remontar os acontecimentos recentes. Antes que conseguisse responder a dor aumenta novamente e, sem mais forças, ele desmaia.
– Pelo visto, os deuses não estiveram ao seu lado recentemente. – murmura o velho, enquanto apóia o rapaz em seus ombros e retorna para a trilha, levando-o para sua cabana.

– Venha, vou lhe ajudar a tratar desses ferimentos. Minha casa é próxima daqui e minha esposa poderá nos ajudar.
Auxiliado pelo senhor, o jovem o acompanha até a uma cabana de aparência simples, localizada às margens da floresta, onde é tratado por Jari, uma também velha senhora que sempre exibe um sorriso no rosto.
– Mojar. – diz o dono da cabana – Mojar é o meu nome. Disse que não se lembra do seu?
– Não… não faço ideia de quem eu seja ou como fui parar naquela fonte.
– Voktar… – murmura a mulher – Essas cartas que estavam no seu bolso estão assinadas por Voktar. Acredito que esse é o seu nome. Soa-lhe familiar, meu filho?
– Sim… o nome não é estranho. Acho que me chamo Voktar, sim.

Cinco anos se passaram desde que Voktar foi encontrado por Mojar na floresta. Sem se lembrar de sua vida passada, ele passou a ajudar o casal nas tarefas, assim que ficou curado, e criou uma grande afeição pelos dois. Naqueles dias ele chegou a cogitar que, independente de como sua vida esquecida era, aquilo era o melhor que poderia ter-lhe acontecido. Esse sentimento de afeição era mútuo, visto que Mojar e Jari o tratavam como um verdadeiro filho, como um enviado dos céus para suprir o seu momento de dor. Na verdade, como descobriu após ser curado, o casal tinha perdido um filho pouco tempo antes de Mojar encontrá-lo na fonte e, por isso, o trataram tão bem.
Mas algo não estava certo. Todas as noites Voktar tinha pesadelos horríveis, vezes com monstros, vezes com morte e sangue. Mas algo era constante: Independente de como o sonho começava, ele sempre acabava com um ser negro, às portas de uma caverna localizada na floresta, chamando pelo seu nome, o atraindo como se lhe sugasse o próprio sopro de vida. E foi em uma noite, após despertar de um sonho tenebroso desse, que Voktar teve a impressão de ter acordado sobre a cama, em um estado de levitação, seguido de uma brusca queda. Logicamente ele se convenceu que era apenas um sonho estranho, mas aquilo passou a intrigá-lo quando se repetiu por mais uma ou duas noites.
Sem suportar mais os pesadelos frequentes, em uma manhã, Voktar sai cedo e entra na floresta, à procura da caverna misteriosa. E foi na própria floresta que ele ouviu novamente a voz, acordado dessa vez, sussurrando o seu nome em tom sombrio, o impelindo por um caminho desconhecido. Após vagar por um longo período ele se depara com o lugar dos seus pesadelos e, munido mais de curiosidade do que coragem, adentra na escuridão.

Trevas, era tudo o que havia naquele lugar, exceto por uma fraca luz que escapava por meio das frestas ao longe. Guiado por ela, o jovem avança e caminha por muito tempo acompanhado apenas pelo bater de asas esporádico de morcegos e outros animais que ele desconhecia. Em meio a essa caminhada, ele pisou em uma pedra solta e caiu em um profundo buraco e, quando estava prestes a encarar a morte, ele fecha os olhos e nada acontece. Ele os abre lentamente, e vê o piso iluminado a centímetros de seu rosto. Assim como a voz que o chamava, a levitação que experimentou não era um sonho. Lá estava ele, flutuando e indo contra todas as crenças humanas. Mas, o chão estava iluminado. Finalmente ele chegara ao lugar de onde a luz surgia. Após endireitar-se, ele vira-se para ela, e vê uma grande sala, semelhante aos salões do trono de castelos antigos, iluminado por ouro e pedras preciosas incrustadas em cada detalhe arquitetônico. E, no meio do salão, um homem, munido de uma espada que aparentava ser mais uma das fontes de luz, o encarava, com um olhar de ódio e determinação para matar um leão.
– Como ousa retornar a este lugar, Voktar! – brada o estranho – Eu fui bem claro quando disse que você não era mais bem vindo aqui!
Voktar nota que, escondidas atrás de pilastras, algumas pessoas comuns, porém vestidas com belas e brancas vestes, se escondem, observando àquela enigmática cena.
– Espere! Quem é você? Onde eu estou?
– Cale a boca e lute, seu verme! Eu errei em ter deixado você escapar, mas não cometerei o mesmo erro novamente!
Naquele momento, o guerreiro salta na direção de Voktar, com a espada em posição de ataque e, como um reflexo não controlado, ele desvia do ataque fulminante voando em direção ao teto.
– Vejo que continua um covarde, Voktar! Mas nunca será páreo para mim!
De repente, a mão do guerreiro começa a brilhar, e as luzes do ambiente começam a ser sugadas para a palma de sua mão. Ele aparenta fazer certo esforço, mas mantém a posição e as luzes dos objetos vão se apagando uma a uma até que a palma de sua mão é a única fonte de iluminação no salão – Morra agora, maldito Voktar! – Um feixe de luz é disparado na direção do jovem que levitava e atravessa o seu peito. A dor é indescritível e, claro, ele perde a consciência.

É noite, os lobos realizam seu irritante culto à lua e um homem semimorto jaz no meio de um deserto. Suas lembranças são nebulosas, mas ele se lembra de um sonho. Ou era real? A dor que sente em seu peito lhe diz que não é possível a realidade ser maior do que aquilo e o único pensamento que invade a sua mente é que nunca verá seu “pai” e “mãe” novamente. Os chacais se aproximam, atraídos pela carne fresca e sangue que escorre pela areia. Quando estão se aproximando de Voktar, ele ouve um ganido, seguido de outro e outro, até que todos os animais encontram-se em uma situação pior do que a dele.
– Você está muito mal, Voktar. – ele ouve – Vamos cuidar desse seu ferimento.
Em questão de segundos a vida deixa de fugir do jovem e ele respira profundamente, como se tivesse acabado de renascer. Sem entender, ele fita o homem que aparentemente o salvou. Ele é de aparência velha, com a pele maltratada pelos raios de sol, e veste algo parecendo com uma túnica com muitas camadas de pano, para se proteger do frio da noite. Frio. Aquilo era o que o fazia tremer tanto e, como se adivinhasse isso, o velho o carrega até uma casa construída perto dali, com a consciência insistindo em abandoná-lo novamente.

É dia, Voktar acorda e percebe que está em uma casa que desconhece. Logo as memórias dos últimos acontecimentos vêem a mente e ele percebe que não foram mais um sonho maluco e sim totalmente reais.
– Finalmente acordou. Ficou deitado ai por uma semana – diz o velho
– Uma semana? Meus pais! Preciso encontrar meus pais!
– Acalme-se, Jari e Mojar estão além da floresta e, apesar da preocupação com o seu desaparecimento, encontram-se bem.
– Como… como você sabe os nomes deles?
– Eu sei de muitas coisas, meu caro Voktar. E logo você também saberá. Venha, siga-me.
Sem entender o que está acontecendo, o recém recuperado homem segue o enigmático velho até fora da casa, chegando a um terreno rochoso, localizado entre o deserto e a floresta, a única separação entre ele e seus pais. Sem aviso, o homem joga uma grande pedra na direção de Voktar que, assustado, reage instintivamente esticando o seu braço e vaporizando-a completamente.
– Mas o quê? – indaga, sem entender
– É isso que você é, Voktar. Um Grandor. Um ser superior que coloca a composição básica de tudo sob o seu domínio.
– Grandor? Você quer dizer os deuses das antigas lendas?
– Antigas sim, mas não lendas, como perceberá em breve.
Durante o período em que esteve se recuperando e morando com seus pais, Voktar leu muitos livros que eles mantinham guardados. Eram sobre épocas antigas, onde deuses e seres mitológicos dominavam a terra. As lendas diziam que os Grandors, os ditos deuses antigos, podiam tornar qualquer coisa realidade, seja desejos de mortais ou a aniquilação de seus inimigos. Mas, claro tudo não passava de lendas antigas, contadas por pais a filhos para que fizessem as suas obrigações e obedecessem, para receber as “dádivas divinas”.
– Isso é ridículo! Grandors não passam de mitos inventados por mentes ociosas.
– Você sabe que isso não é verdade. Afinal de contas, foi atacado por um a pouquíssimo tempo. Eu sei que eles são verdadeiros, pois eu mesmo servi a um dos maiores Grandors que já existiu. O mesmo Grandor que sucumbiu diante do que quase acabou com você.
– Acabou comigo? Mas eu não sou “imortal”, segundo suas palavras?
– Eu disse acabar com você, não matá-lo. O coração dos Grandors é o seu ponto fraco. Você não morreria mas, se o ataque dele tivesse atingido o seu coração, você viveria em tormento eterno. Consegue imaginar isso? A dor existiria para sempre, assim como você. Venha, quero lhe mostrar uma coisa.
Ainda incrédulo, mas muito confuso pela ridícula possibilidade da história ser verdadeira, ele o segue, adentrando a floresta até alcançarem uma clareira vazia. O velho exclama algumas palavras que, apesar de não fazerem sentido para Voktar, soam familiares, de certa forma. Então, no centro, um altar de pedra se ergue. Voktar se aproxima e vê as inscrições:

Na Era Milzan, no reinado do Grande Rei Milfaz,
o grande Voktar veio em auxílio a seu povo e
o livrou das mãos de seus inimigos.
Para sempre será adorado, ó grande Voktar!

– Mas que…
Naquele momento, lembranças desencontradas de outra vida, uma vida de majestade e poder, brotam na mente do jovem e ele percebe que o velho não mentia, no fim das contas.
– Exatamente o que leu, grande Voktar. Fui impelido para o deserto a fim de te encontrar e fazê-lo se lembrar de quem você realmente é. Mandrelor, o Grandor que quase te proporcionou a morte eterna hoje, o tirou de seu trono e ocultou seus poderes para que pudesse reinar como um deus em seu lugar. A minha missão é fazê-lo lembra-se de quem é e ajudá-lo a redescobrir e controlar as suas habilidades. A propósito, me chame de Gomar – dizia o homem enquanto se curvava de forma respeitosa – sempre a seu dispor.
Tomado por uma certeza inexplicável de quem um dia foi, Voktar, mesmo sem recuperar toda a sua memória, decide confiar em Gomar e seguir os seus conselhos e ensinamentos.

Durante meses, Gomar lhe ensinou a controlar os elementos da natureza, a moldá-los segundo a sua própria imaginação e se concentrar na essência vital de tudo o que existe. Entre os ensinamentos de Gomar, ele descobriu o que exatamente são os Grandors.
– Imagine a terra como essa folha de árvore. Agora, se a coloco em cima dessa poça de água, ambas mantêm contato constante, mas a água e a terra existem independentemente uma da outra. A água é a morada dos deuses, uma realidade sobreposta a terra mas perceptível apenas por aqueles que sabem que ela está lá, ou seja, foram escolhidos pelos Grandors. Você adentrou em uma caverna da terra mas, por ser um Grandor, atravessou a superfície da realidade e alcançou o reino dos deuses. Esse foi o lugar onde você esteve. O lugar que foi arrancado de você. Mandrelor manipulou o elemento proibido, os pensamentos dos deuses, e o exilou na terra para que nunca mais o incomodasse.
– Mas, como posso fazer para recuperar o que é meu de direito? Eu fui derrotado muito facilmente por ele.
– Você foi derrotado porque estava despreparado. Em pouco tempo estará em sua forma perfeita.

E chega o dia em que o treinamento de Gomar finalmente termina. Voktar está ansioso para reconquistar o seu reino, mas anseia mais ainda por ver os seus pais.
– Finalmente você pode ir vê-los. – diz Gomar – Foi sábio seguir o meu conselho e não manter contato com eles durante esses tempo. Agora que Mandrelor sabe de você, eu não me surpreenderia se ele usasse seus pais para atraí-lo.
– Obrigado por me manter seguro durante esses meses, Gomar. Apesar de eu não me lembrar dos fatos de minha vida, agradeço por me lembrar quem eu sou.

Voktar parte em direção a sua casa, a fim de ver seus pais uma última vez antes de confrontar Mandrelor. Ele faz seus planos de libertar o lar dos deuses da opressão de Mandrelor e levar seus pais com ele, para que tenham uma vida boa e farta, por o ajudarem nos últimos anos.
Finalmente ele chega à fonte onde foi encontrado pela primeira vez. Ele lembra-se do rosto de Mojar, solidário, pronto a ajudá-lo e continua seu caminho pela trilha. Mas, ao chegar, ele não pode acreditar no que seus olhos vêem. Cinzas são tudo o que restou de seu lar. Tudo está destruído e uma inscrição está presente em uma pedra colocada sobre o local.

Eu sei que está vivo, Voktar.
O próximo será você.

Lágrimas brotam do jovem e, ao olhar atrás da pedra, os corpos estirados de seus pais estão lá, com um grande rombo no peito e os corações arrancados. Voktar estende a mão para o lado e a terra começa a se mexer, criando dois buracos retangulares, onde ele coloca os corpos de seus pais os levitando, com a outra mão. A terra preenche a cova e a tristeza dá lugar à fúria.

– Mandrelor, você irá pagar!

Reunindo toda a sua força recém descoberta, Voktar se ergue do chão e parte pelos ares em busca da caverna, mas dessa vez nenhuma voz o guia. Então, ao longe, ele é surpreendido por estranhos seres alados, semelhantes aos ditos dragões de uma era supostamente lendária. São quatro no total, e possuem porte um pouco maior que um boi adulto. Um deles é uma grande labareda de fogo, com dois olhos negros. Outro, como uma grande serpente de água, com olhos escarlates. O terceiro um vapor negro, como uma nuvem de tempestade e outro com a pele semelhante às rochas do deserto. Apesar da aparência irreal, Voktar compreende que aquilo é uma criação de Mandrelor para enfrentá-lo, e não se intimida. O Dragão de Fogo lança uma labareda para cima dele, que escapa pelo lado e quase é atingido por uma forte ventania, disparada pelo Dragão do Ar. Ele estende sua mão na direção ao de Fogo e agarra sua cauda. Então, ele gira a besta em círculo e o lança na direção da serpente de água, que desvia voando por cima, logo lançando uma torrente sobre Voktar, que é atirado à terra sem conseguir escapar. Ele abre os olhos e vê o Dragão da Terra vindo a toda velocidade, lançando uma grande rocha pela boca. Ele então se concentra e faz com que a ela se parta ao meio e desvie para os lados ao mesmo tempo em se lança na direção do monstro e o atravessa como um raio, fazendo-o se despedaçar como terra seca. – Um já foi, faltam três – Os dragões restantes voam rumo a ele e lançam um ataque de todas as direções. Uma enorme bola de fogo, águas e ventos envolvem Voktar que, em um movimento rápido, cria uma esfera protetora em torno de si. – Agora é a minha vez – ele fala. Então, ele faz grandes paredes de terra se erguer do chão em uma velocidade absurda, que envolvem o Dragão de Fogo e o aprisiona. Então, ele se volta para os dragões de Água e Vento, mas é surpreendido pelo que vê. Os dragões estão voando juntos e, em um grande clarão, dão origem a um único ser, de duas cabeças, que provoca uma forte tempestade, obrigando Voktar a se defender mais uma vez. O problema, como ele logo nota, é que a tempestade não parece ter fim e ele não conseguirá derrotar o inimigo apenas se defendendo. Nesse momento, a prisão de terra que continha o ser de fogo explode, e o dragão escapa, lançando uma labareda que estoura a esfera de proteção. Por mais que Voktar saiba que ele pode fazer qualquer coisa, a sua falta de confiança o deixa em uma posição desfavorável até que ele se lembra do que Mandrelor fez aos seus pais. Nesse momento, ele se concentra e acumula toda a energia da tempestade ao seu redor, mantendo-se seguro e, em uma única ação, dispara-os na direção dos dois seres, destruindo-os em pleno ar.
– Não posso perder mais tempo – ele diz, ao mesmo tempo em que olha para baixo e percebe que está acima da caverna.

Ao descer até o local, Gomar está o esperando.
– Tem certeza de que está preparado? – ele pergunta.
– É a minha única certeza agora, Gomar.
Então, eles refazem os passos de Voktar e chegam à sala do trono, onde Mandrelor o aguarda.
– Eu não acredito que você está aqui novamente, Voktar! E ainda traz um traste de um andarilho. Acabar com você duas vezes já não foi humilhante o bastante?
– Eu estou aqui para fazer você pagar por tudo o que fez, Mandrelor!
Voktar fala para Gomar se proteger e cria duas espadas negras nas mãos, como manifestação de todo o ódio que sente, e parte na direção do inimigo, com uma sequência incessante de golpes que são repelidos pela espada de luz do adversário.
– Pagar pelo quê, pobre Voktar? Você fez por merecer tudo o que teve.
– Cale a boca! Eu arrancarei seu coração!
A luta prossegue e Voktar dispara um raio na direção de Mandrelor, que desvia por pouco, tendo seu braço atingido. Ele revida, e atinge Voktar na perna com algo semelhante a pequenos dardos, disparados das pontas dos dedos. Ele sente a perna, mas nada o impedirá de vingar-se do que aquele Grandor fez a ele. Então, lança suas espadas nas grandes pilastras de ouro e as quebra, derrubando parte do teto sobre Mandrelor.
– Como você se sentiu? Como se sentiu ao queimar a minha casa e arrancar os corações de meus pais? Eles não tinham nada a ver com isso!
Em meio aos escombros, Mandrelor se ergue um pouco ferido e dispara um grande feixe de luz, que atinge Voktar em cheio, derrubando-o e o deixando muito ferido. Parece que, no final das contas, poucos meses de treinamento não eram suficientes para derrotar alguém com milênios de experiência.
– Pais? Você não tem pais, seu idiota. Você é um Grandor, ou pelo menos era… Pare de falar asneiras e renda-se logo!
– Nunca! – exclama Voktar – pouco antes de ser novamente atingido por uma lâmina lançada por Mandrelor, que lhe corta uma perna.
– Eu não sei o que você pensa que sabe, mas parece que está muito enganado, seu traste! – diz Mandrelor.
– Gomar me contou tudo. Ele me disse como você me destituiu do meu trono e arrancou as minhas memórias e habilidades!
– Gomar? Aquele é Gomar, seu antigo servo? – diz Mandrelor, apontando para o homem que pensou ser um andarilho.
– Meu… antigo servo? Porque não me contou? – diz Voktar confuso, enquanto se vira para Gomar
– Fiz o que me ordenara, meu senhor. Meu trabalho criando aqueles dragões foi indescritível, não é verdade?
– Dragões? – Voktar sente um raio passando por sua cabeça, enquanto lembranças começam a florescer.
– Eu… pedi… para você… criar… dragões. Eu… me lembro… agora. Mas… – outro raio passa por sua mente e ele se lembra de uma conversa antiga:

– Gomar, quando eu estiver pronto, preciso que me mostre à direção para onde seguir.
– Claro, meu senhor. Farei criaturas surgirem do local para guiá-lo.
– Faça-as desafiadoras. Provavelmente eu não me lembrarei de nada, mas gostaria de um rápido treino antes de enfrentar Mandrelor.

De volta ao presente, Voktar ainda está um pouco confuso quando Gomar lhe diz:
– A ilusão sobre os seus pais também funcionou bem. Consegui fazê-lo pensar que eles estavam mortos e você se livrou daqueles pesos mortos enterrando-os vivos – ele diz, em meio a uma sinistra gargalhada.
A confusão na mente de Voktar é enorme.
Morte… Mojar… Trevas… Matar… Jari… Gomar… Dargor… Vida… Mentira… Dragões… Mandrelor… deuses… Dargor… das Trevas… Voktar?
Naquele momento, antigas memórias vem à tona. Memórias de uma época passada. Como uma torrente elas inundam a cabeça de Voktar e ele se lembra, lembra-se de tudo.
Uma névoa negra envolve o seu corpo e ele se ergue em frente à Mandrelor totalmente curado.
– Você é patético, Mandrelor – ele diz com uma voz sombria. – Eu matei nossos irmãos, tentei arrancar o seu poder, mas fui derrotado por pura sorte sua. Ao invés de me matar fez o quê? Arrancou a minha memória e me atirou no mundo dos mortais? Eu sou Voktar, o grande Dargor das Trevas, e deixarei você ter paz por mais algum tempo, enquanto reúno exército sombrio novamente. Dessa vez, você não terá nenhuma chance contra mim. Adeus, irmãozinho.

A sombra negra se espalha e, envolvendo Voktar e Gomar, ambos desaparecem, deixando o grande rei dos deuses Mandrelor atônito e temendo pelos tempos sombrios que se aproximam…

Por hoje é só, pe-pe-pessoal!

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